INFLUÊNCIAS
ESPIRITUAIS
Publicado na Revista
RIE de maio de 2014
Mesmo para as pessoas que
acreditam serem espiritualizadas, as preocupações e as dificuldades do
cotidiano, acabam provocando, algumas vezes, uma ilusão. A ilusão que a vida se
limitaria apenas a estas preocupações e dificuldades, diminuindo-se, portanto, a
importância da dimensão espiritual, ou mesmo esquecendo-a quase por completo. Mas
por que este esquecimento ou negligência são perigosos? Por que na dimensão
espiritual está uma população invisível que se move em torno de nós, e ela, não
é feita apenas de espíritos bons: “Os
Espíritos que formam a população invisível da Terra são, de certa maneira, o
reflexo do mundo corporal. Encontram-se neles os mesmos vícios e as mesmas
virtudes aqui observadas”[1], consequentemente os espíritos maus também
exercem sua influência, facilitados, como foi dito, pela ignorância ou pela
falta de preocupação pelas questões espirituais que normalmente levam a falta
de vigilância sobre nossos atos e pensamentos.
Devemos saber que, para se
aproximarem de nós, os espíritos maus não esperam o nosso chamado: “Credes que os
Espíritos maus, que pululam no meio da Humanidade, esperaram ser chamados para
exercerem sua influência perniciosa?” [2],
o que vale dizer que, retirando os
inimigos espirituais, em casos específicos de vingança, são eles, os espíritos
inferiores, verdadeiros oportunistas, figurativamente, como as aves que são
atraídas pelo cheiro de animais mortos, sendo este odor nossas imperfeições ou
nossas inclinações menos dignas: “tais inclinações são piores que os Espíritos
maus, pois são elas que os atraem como a corrupção atrai as aves de rapina”.[3]
Para entendermos melhor o que facilita os espíritos serem
atraídos uns pelos outros ou entre estes e os encarnados, devemos compreender
que os espíritos irradiam ao seu redor uma espécie de energia que revela seu
adiantamento intelecto/moral: “A alma não se acha encerrada no corpo, qual
pássaro numa gaiola. Irradia e se manifesta exteriormente, como a luz através
de um globo de vidro”[4] . É
oportuno também o trecho encontrado no livro Céu e o inferno: "Por
sua natureza, possui o Espírito uma propriedade luminosa que se desenvolve sob
o influxo da atividade e das qualidades da alma”[5], assim, um espírito com baixa qualidade moral
não poderá exteriorizar uma luz resplandecente, benéfica, curativa e amorosa,
na verdade, não terá luz nenhuma, ou dependendo do caso sua atmosfera espiritual será doentia, chegando a
ser comparada com o cheiro da decomposição[6]ou
miasmas[7]. Desta maneira,
percebemos como deve ser difícil, para não dizer impossível, os espíritos
encarnados ou desencarnados esconderem aquilo que são para os outros espíritos,
tornando-se facilmente identificáveis, atraindo aqueles que são seus iguais.
Tendo em vista os
conhecimentos preliminares sobre os espíritos inferiores vistos até aqui,
podemos fazer algumas reflexões decorrentes da influência destes espíritos. Primeiro: a criatura ao desencarnar,
mesmo sendo má, não fica trancafiada para sempre em algum lugar, se fosse
assim, não existiriam as obsessões. A Doutrina Espírita, pelo ensino dos
Espíritos e pela prática mediúnica põe por terra a ideia de um céu
compartimentado em níveis celestiais estanques e absolutos. Entretanto, é
lógico que os espíritos possam ficar reunidos por simpatia ou identidade de
interesses, em algum lugar[8],
porém, regiões estas sempre regidas pela transitoriedade, já que o espírito
tendo que obedecer cedo ou mais tarde a Lei do Progresso[9],
terá que lançar voo para novas paisagens, é por isto que Kardec escreve: “A localização absoluta das regiões das penas e das recompensas só na imaginação
do homem existe”[10].
Segundo: o contato com as
influências negativas do além serve para uma finalidade positiva, sem que os
espíritos malfeitores tenham consciência disto. Por que ao odiarem, estes
espíritos estão oferecendo as vítimas a oportunidade do perdão, de retribuir o
mal com o bem, lembrando a conhecida passagem do Evangelho: “Amai os vossos
inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e
caluniam...”[11] Engana-se, porém, quem pensa que este
tipo de “serviço” que os maus produzem, sem perceberem, os eximem da
responsabilidade por seus atos, ou torne-os mais nobres, é assim que: “Ai do mundo por causa dos escândalos; pois é necessário que venham escândalos; mas, ai do
homem por quem o escândalo venha”[12] mais adiante outro trecho: “É necessário
que o escândalo venha, porque,
estando em expiação na Terra, os homens se punem a si mesmos pelo contacto de
seus vícios, cujas primeiras vítimas são eles próprios e cujos inconvenientes
acabam por compreender”[13]. É de se admirar da sabedoria divina que
de um mau tira um bem, pois oferecendo a criatura terrena a ocasião de entrar
em contato com o mal, lhe dá oportunidade de resistir, fortalecendo o caráter,
tornando-se um espírito melhor. É como um lutador que precisa de alguém para
lutar, vindo a ser mais forte e mais
poderoso que seu adversário, é desta maneira que, aquele que “se libertou da obsessão em vida, é forte, e os
Espíritos maus o encaram com temor e respeito”[14].
Terceiro: A possibilidade de podermos
fazer o mal ou o bem revela o livre arbítrio dado por Deus as suas criaturas e
como esta liberdade é importante na evolução do espírito, porque, se Deus através
de seus mensageiros fosse impedir toda vez este ou aquele ato infeliz, não
ganharíamos experiência com nossos próprios erros e o mérito pessoal em
resistir ao mal ficaria comprometido. Porém, se engana quem pensa que estamos
sozinhos na luta contra as influências negativas. Segundo a Doutrina Espírita,
todos nós contamos com um espírito protetor, que nos induz bons pensamentos,
que age em nosso favor para que venhamos a permanecer no caminho reto, sem nos
tolher a liberdade ou o livre arbítrio. O espírito protetor até pode expulsar
ocasionalmente[15] os
espíritos inferiores que desejam nos envolver, entretanto, a responsabilidade
maior em fazer isto é, e sempre será, de nós mesmos pela prática do bem, pela
vivência do amor e principalmente pela perseverança no objetivo de tornar-se
uma pessoa melhor. Todavia fiquemos atentos, os espíritos maus não vão embora
quando a bondade e as boas intenções são apenas superficiais e passageiras.
Lembremo-nos da questão 468 do Livro dos Espíritos: “... Entretanto,
ficam à espreita de um momento propício, como o gato que tocaia o rato”.[16] Este
momento propício certamente varia de pessoa para pessoa, mas normalmente se
apresenta quando os problemas aparecem ou quando vivemos situações em que
nossos impulsos inferiores podem ser satisfeitos[17].
O assédio do mundo
espiritual inferior revela uma verdadeira batalha espiritual que se dá na vida
diária sem que muitos tenham consciência disto. Os que se deixam levar pelas
drogas, pelos desvarios do sexo, pela violência, pelo crime, pelo desânimo
excessivo, pelo pessimismo, pela arrogância e pela vaidade, pelo apego as
coisas materiais em detrimento das espirituais são os que estão perdendo e os
espíritos inferiores se alegram, pois nestes casos nós nos assemelhamos a eles.
Mas os que, vigilantes, não desistem e mesmo caindo em erro voltam a se erguer
e mesmo tendo a consciência da triste verdade que certas fraquezas têm raízes
profundas na alma, e mesmo assim não desanimam na busca de horizontes mais altos,
bem, estes são os que estão vencendo, homens e mulheres de bem[18],
espalhados pelo mundo na mais alta até a mais humilde posição social,
pertencendo aos mais variados credos e culturas. São eles que já fazem esta
revolução silenciosa, qual rio subterrâneo que eclode de maneira subversiva nas
tradições perversas e viciosas do mundo para transformá-las. O Espiritismo, não
ficando de fora deste movimento renovador, é também uma voz que vem clamar, a
adentrarem na batalha, todos aqueles que almejam um mundo melhor, batalha esta,
sem dragões, espadas ou castelos como na visão romanesca medieval ou tanques e
foguetes do mundo contemporâneo, mas com a armadura indestrutível do amor e do
esclarecimento.
FAUSTO
FABIANO DA SILVA
Pesquisador
Espírita em Londrina.
BIBLIOGRÁFIA
KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo. Araras: Ed.
Instituto de Difusão Espírita.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 67. ed. São
Paulo: Ed. Lake, 2007.
KARDEC,
Allan. O Céu e o Inferno. Disponível em <http://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2012/07/138.pdf
> Acesso em 10 de fevereiro de
2014.
KARDEC, Allan. Evangelho Segundo o Espiritismo. 85.
ed. Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1982.
KARDEC, Allan. Revista Espírita, junho de 1860.
KARDEC, Allan. Revista Espírita, dezembro de 1862.
[1] Pequena
Conferência Espírita, capítulo um, livro O que é o Espiritismo de Allan Kardec.
[2] Revista
Espírita de dezembro de1862, Estudos sobre os Possessos de Morzine.
[3] Idem ao
item 2
[4] Livro
dos Espíritos de Allan Kardec, questão 141.
[5] Livro O
Céu e o Inferno de Allan Kardec, segunda parte, capítulo IV- Espíritos
Sofredores, Claire.
[6] Estudos Sobre os Possessos de Morzine na
Revista Espírita de dezembro de 1862
[7] Miasma é
o conjunto de odores fétidos provenientes de matéria orgânica em putrefação. No
século XVII acreditava-se que estes odores eram a causa de doenças, mais tarde
esta crença foi abandonada pela teoria microbiana.
[8] Questão 278 do Livro dos Espíritos: Os da mesma categoria se
reúnem por uma espécie de afinidade e formam grupos ou famílias, unidos pelos
laços da simpatia e pelos fins a que visam: os bons, pelo desejo de fazerem o
bem; os maus, pelo de fazerem o mal, pela vergonha de suas faltas e pela
necessidade de se acharem entre os que se lhes assemelham.
[9] Livro
dos Espíritos de Allan Kardec, capítulo VIII.
[10] Livro
dos Espíritos de Allan Kardec questão 1012, edição eletrônica FEB.
[11] Livro O
Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XII, Amai aos Vossos Inimigos,
Mateus, 5:43 a 47.
[12]Livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo VIII,
Escândalos. Se a vossa mão é motivo de escândalo, cortai-a. Mateus 18:7
[13] Livro O
Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo VIII, item 14.
[14] Revista
Espírita de junho de 1860. Conversas Familiares de Além Túmulo.
[15] Leia-se o texto do item 6 onde encontramos: “Todavia – indagarão – por
que os Espíritos protetores não lhes ordenam que se retirem? Certamente o podem
e o fazem algumas vezes; mas,
permitindo a luta, também deixam o mérito da vitória”.
[16] Questão
468 do Livro dos Espíritos.
[17]Questão 466 do Livro dos Espíritos: “... porquanto os Espíritos
inferiores correm a te auxiliar no mal, logo que desejes praticá-lo”.
[18] Leia-se
o texto O Homem de Bem, capítulo XVII do Evangelho Segundo o Espiritismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário