Por
que o diabo não existe
(publicado
no jornal espírita O Clarim de novembro de 2017)
A Doutrina Espírita apresenta a
realidade do mundo de tal forma, que a existência do diabo perde a razão de
ser. No Espiritismo, a perfeição e a soberania de Deus não abrem espaço para a possibilidade
do diabo existir.
Então nos perguntamos, se o diabo não existe,
qual a origem do mal? Enquanto para muitos, satanás serviria para explicar esta
origem (1), no Espiritismo, a procedência do mal nos leva aos próprios seres
humanos, encarnados e desencarnados ainda em aprendizado, numa longa trajetória
evolutiva, e não a um ser maligno não pertencente a humanidade (2).
Toda revolta contra o Criador, toda
crueldade, toda indiferença, toda inveja, toda fraqueza moral, toda ignorância
são apenas características da fase da evolução intelecto moral que o espírito
esteja passando e não significam a ausência, ou a extinção da potencialidade
para o bem, que Deus colocou em cada um de seus filhos. Desta maneira, não há
nenhum ser voltado perpetuamente para o mal, porque o amor sempre vence, cedo
ou mais tarde, em todo lugar e em todo o coração. Assim, é irresistível a “necessidade que o Espírito sente de sair da
inferioridade e de se tornar feliz” (3).
Desta forma, o ódio ou
qualquer imperfeição, não muda a essência do ser, que é entre outras coisas, a
de ter a capacidade de amar ou de evoluir. É justo pensar que, se fomos criados
por Deus e se este Deus é a maior fonte de amor que existe, então todos os
seres, sem exceção, estão impregnados, de uma forma ou outra, por esta força
primordial. Então, um ser totalmente
maligno, sem a predisposição para amar, não pode ter sido criado por Deus e
nem ter adquirido esta natureza posteriormente a sua criação. Nós devemos entender que a inclinação para
amar não é escolha do ser, mas faz parte dele, mesmo que ele não queira. Assim,
o ódio absoluto não existe.
Mesmo que queiramos apenas odiar. Nós nos
flagramos, gostando de algo: de um animal, de uma planta, de uma música, de
alguém. É como aquele mato que insiste em nascer na fenda da calçada. Você até
pode concretar tudo, pelos maus pensamentos, pelo rancor, pelos ressentimentos,
pela vingança. Mas um dia, pelas sucessivas experiências reencarnatórias, esta
calçada, tão rígida e inflexível de início, começa a criar buracos, fendas,
rachaduras e quando menos se espera, uma pequena vegetação brota outra vez. É
assim em nossa alma, é assim para todos os seres criados pelo Pai. Não dá para
esconder o amor por muito tempo. Podemos
até reprimi-lo, abafá-lo, mas mesmo assim ele jamais morrerá. É por isto que não
há espírito que nunca se arrependa (4) pois ninguém é totalmente mau e maligno,
que não tenha o potencial do bem esperando seu despertar.
Logo, crer na existência do
diabo é crer numa exceção a lei de Deus, é crer que um ser conseguiu burlar a Lei
do Progresso (5), o que é impossível (6).
Nós observamos que a Doutrina Espírita dá uma
nova configuração a realidade, liberta o homem das correntes que lhe faziam
prisioneiro de uma certa maneira de pensar e compreender o mundo. Abre as
janelas para que a visão se estenda para mais longe. Permite que a luz da
verdade ilumine lugares antes obscuros, cobertos que estavam pela ignorância,
pelos dogmas (7), pela fé cega e pelo medo do desconhecido.
Quando deixamos de acreditar na
existência do diabo mais crentes em Deus estaremos. Pois não há o diabo, só
existe Deus e nosso destino de se aproximarmos Dele cada vez mais. O mal que
existe, é transitório, brota de nossas imperfeições (8) e nunca terá o poder de
nos fazer separar de maneira definitiva do Deus criador, que nos espera como o
pai, que amando seu filho, o vê dar seus primeiros passos...
(1) por ignorar a existência de uma multidão de
espíritos em vários estágios de desenvolvimento que habitam a vida após a
morte, para muitos, só resta a crença no diabo para explicar a origem do mal na
face da Terra e para dar causa aos fenômenos mediúnicos.
(2) Deus não criou
seres a parte, desta forma: “Todos os Espíritos têm a mesma origem e o mesmo
destino; as diferenças que os separam não constituem espécies distintas, mas
exprimem diversos graus de adiantamento”. Ler o livro O que é o Espiritismo
capítulo I em Diversidade dos Espíritos.
(3) Questão 1006
do Livro dos Espíritos onde nós lemos a resposta do espírito São Luís.
(4) ler a questão
1007 do Livro dos Espíritos cuja resposta é: “Há os de arrependimento muito
tardio; porém, pretender-se que nunca se melhorarão fora negar a lei do
progresso e dizer que a criança não pode tornar-se homem. ”
(5) Capítulo VIII
do Livro dos Espíritos.
(6) os espíritos
encarnados ou desencarnados ainda inferiores apenas tem o poder de embaraçar a
marcha do progresso, mas nunca de detê-lo. Ler questão 781 do Livro dos
Espíritos.
(7) Apesar da
Doutrina Espírita não aceitar a existência do diabo, ela respeita todo aquele
que acredita, Kardec escreve no livro O que é o Espiritismo, em Pequena
conferência espírita: “Crede, pois, em tudo que vos aprouver, mesmo na
existência do diabo, se tal crença vos puder tornar bom, humano e caridoso para
com os vossos semelhantes”
(8) quando se
chega no estágio máximo da evolução que é dada por Deus ao espírito alcançar, as
imperfeições não existem mais. Estes espíritos são conhecidos como espíritos
puros, ou seja, evoluíram moralmente, mas também intelectualmente. “Eles são os
mensageiros e os ministros de Deus, cujas ordens executam para manutenção da
harmonia universal” (ver questão 113 do Livro dos Espíritos)
Bibliografia
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 67.
ed. São Paulo: Ed. Lake, 2007.
KARDEC,
Allan. O que é o Espiritismo.
Araras: Ed. Instituto de Difusão Espírita.
Fausto Fabiano da Silva
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