sexta-feira, 6 de junho de 2014

Os Espíritos se alimentam?

OS ESPÍRITOS SE ALIMENTAM?
RIE JUNHO 2014
               
                Existem várias citações em obras mediúnicas, de espíritos desencarnados consumindo frutas, sopas ou água no mundo espiritual. A pergunta que podemos fazer é: estes casos encontram apoio nas obras de Kardec?
                  Primeiramente, lembremos uma passagem significativa do livro A Gênese de Kardec, capítulo Os Fluidos, item 20, que comprova que o Codificador se referiu à alimentação espiritual mesmo que implicitamente: “O pensamento, portanto, produz uma espécie de efeito físico que reage sobre o moral, fato este que só o Espiritismo podia tornar compreensível. O homem o sente instintivamente, visto que procura as reuniões homogêneas e simpáticas, onde sabe que pode haurir novas forças morais, podendo-se dizer que, em tais reuniões, ele recupera as perdas fluídicas que sofre todos os dias pela irradiação do pensamento, como recupera, por meio dos alimentos, as perdas do corpo material. É que, com efeito, o pensamento é uma emissão que ocasiona perda real de fluidos espirituais e, conseguintemente, de fluidos materiais, de maneira tal que o homem precisa retemperar-se com os eflúvios que recebe do exterior(grifos meus). Notemos que esta passagem faz referência ao homem encarnado, porém, é do espírito que Kardec está falando em primeiro lugar. A perda de fluidos (energias) é do espírito/perispírito, ocasionando reflexo no corpo carnal. Kardec escreve que, se o corpo físico recupera as energias através dos alimentos, o espírito readquire suas energias dos eflúvios, vindo do exterior, através dos poros perispiríticos como sugere esta passagem do mesmo capítulo Os Fluidos, item 18, do Livro A Gênese: “Os meios onde superabundam os maus Espíritos são, pois, impregnados de maus fluidos que o encarnado absorve pelos poros perispiríticos, como absorve pelos poros do corpo os miasmas pestilenciais”. Embora este trecho fale sobre os encarnados, Kardec revela uma propriedade do corpo espiritual, que absorveria as energias negativas de um ambiente ruim, isto faz crer que, poderia absorver elementos positivos de uma atmosfera espiritual benéfica e superior para reparar possíveis perdas, ou retemperar-se, usando as palavras de Kardec. Ora, qual palavra nós poderíamos usar para recuperação/absorção de energias vindas do exterior? Alimentação.
               Alguém poderá alegar que esta passagem de Kardec tem que ter outra interpretação, pois do contrário, estaria em contradição com outros trechos das Obras Básicas, onde encontramos que os espíritos não podem saciar sua fome, por exemplo: No livro O Céu e o Inferno em Exprobrações de um Boêmio: “A influência da matéria segue-os além-túmulo, sem que a morte lhes ponha termo aos apetites que a sua vista, tão limitada como quando na Terra, procuram em vão os meios de os saciar. Vejamos que a contradição é apenas aparente, pois o trecho em questão se refere a espíritos ainda muito apegados as coisas terrenas, desejando viver suas paixões como se encarnados estivessem, mas isto é impossível. Porém a alimentação espiritual é algo mais sutil e não se compara com alimentação terrena, deste modo, o que os espíritos inferiores não conseguem saciar é a grosseria dos seus instintos, reviver as mesmas sensações materiais de quando encarnados, e é isto que em vão tentam reproduzir, como revela este trecho da Revista Espírita de novembro de 1860 em Conversas Familiares de Além Túmulo: “Não podendo comer, um Espírito material e sensual se repasta da emanação dos alimentos; saboreia-os pelo olfato, como em vida o fazia pelo paladar”. Notamos que alimentação espiritual pelos poros do perispírito, ou por energias condensadas em forma de frutas ou caldos é outro assunto.
                 Há aqueles que ainda poderão afirmar que os espíritos não podem comer, pois não têm órgãos como o corpo físico. Primeiramente devemos dizer que os espíritos também não têm olhos como os encarnados, mas conseguem enxergar, por que sem estômago não poderiam comer? Vejamos que o argumento dos espíritos não terem órgãos não se sustenta, lembremos também que os espíritos não tem cérebro, mas pensam.
                   Outra objeção é baseada na questão 254 do Livro Espíritos, que trata sobre a fadiga nos espíritos desencarnados: “Não podem sentir a fadiga, como a entendeis; conseguintemente, não precisam de descanso corporal, como vós, pois que não possuem órgãos cujas forças devam ser reparadas”. Na Revista Espírita de abril de1859 em Quadro da Vida Espírita, também outro trecho semelhante: “Há sensações que têm sua fonte no próprio estado de nossos órgãos. Ora, as necessidades inerentes ao nosso corpo não podem ocorrer, desde que o corpo não existe mais. O Espírito, portanto, não experimenta fadiga nem necessidade de repouso ou de nutrição, porque não tem nenhuma perda a reparar, como não é acometido por nenhuma de nossas enfermidades (grifos meus). Outra vez a contradição é apenas aparente.  Notemos que na questão 254 os espíritos utilizam a frase “como a entendeis”, resposta semelhante à questão 200 do Livro dos Espíritos: Os Espíritos tem sexo? R. Não como o entendeis. E é neste sentido que Kardec escreve que os espíritos não se nutrem. Em outras palavras, os espíritos não se nutrem com nós (encarnados) entendemos, não precisam descansar como entendemos e não há nenhuma perda a reparar como nós entendemos, porém, nada obsta se nutrirem espiritualmente, como é sugerido no livro A Gênese já citado.
                  Outra dúvida é se os espíritos podem mesmo condensar as energias em forma de alimentos. Para quem tiver o trabalho de ler com cuidado, o já citado, capítulo, Os Fluidos, agora no item 14, encontrará: “Pelo pensamento, eles imprimem àqueles fluidos tal ou qual direção, os aglomeram, combinam ou dispersam, organizam com eles conjuntos que apresentam uma aparência, uma forma, uma coloração determinadas; mudam-lhes as propriedades, como um químico muda a dos gases ou de outros corpos, combinando-os segundo certas lei. É a grande oficina ou laboratório da vida espiritual”. Este poder de manipulação pode ser visto também na Revista Espírita de agosto de 1859 em “Um Espírito Serviçal”, onde uma criança encarnada é curada por alimentos espirituais: “Durante oito dias eu mesmo a vi, parecendo sair do seu abatimento, adquirir uma expressão sorridente e feliz, de olhos semicerrados, sem olhar para as pessoas que a cercavam, estender a mão por meio de um gesto gracioso, como para receber alguma coisa, levá-la à boca e comer; depois agradecer com um sorriso encantador. Durante esses oito dias a criança foi sustentada por esse alimento invisível e seu corpo readquiriu a aparência do frescor habitual”. É certo que no caso específico, a alimentação espiritual serviu para curar o corpo físico da menina, entretanto torna-se evidente a possibilidade dos espíritos em fazer tais alimentos.  Ora, Kardec mencionou uma forma dos espíritos absorverem as energias da atmosfera espiritual, que seria através dos poros perispiríticos, porém, é completamente admissível pensar que este não seja o único meio utilizado pelos espíritos. A alimentação espiritual, condensados energéticos em forma de frutas, caldos ou água deixa de ser absurda pra se tornar viável, natural e lógica.
               Outra objeção é porque então estes detalhes não foram mencionados explicitamente pelos Espíritos na época da Codificação. Bem, talvez a resposta seja mais simples do que imaginamos, pois se na época de Kardec “nem tudo foi revelado” como preceitua o capítulo Caráter da Revelação Espírita, no livro A Gênese, e como nos ensina a introdução do Evangelho Segundo o Espiritismo, os Espíritos “não atacam as grandes questões da Doutrina senão gradualmente, à medida que a inteligência se mostra apta a compreender verdade de ordem mais elevada e quando as circunstâncias se revelam propícias à emissão de uma ideia Nova” é fácil supor então, que certos detalhes da vida espiritual teriam que ser desenvolvidos em época posterior.
               Os espíritos se alimentam? Refazendo a pergunta que dá título ao texto, responderemos: se ficarmos limitados à ideia terrena ou biológica da nutrição a resposta será negativa. Os espíritos não precisam se alimentar no sentido de reporem as energias para continuar vivos já que são imortais. Porém, esta imortalidade não quer dizer autossuficiência. O único ser que podemos afirmar com segurança, ser autossuficiente é Deus. Já os espíritos encarnados ou desencarnados carecem de energias que contribuem para o equilíbrio espiritual. Esta é a mensagem da Doutrina Espírita, o que faz que a presença de alimentos no mundo dos espíritos não seja visto como algo tão exótico como pode parecer inicialmente, fazendo com que os relatos existentes em obras espíritas consagradas sejam na verdade, a confirmação dos princípios doutrinários como: manipulação do Fluido Cósmico Universal pelos espíritos e absorção de energias espirituais.   

FAUSTO FABIANO DA SILVA


BIBLIOGRAFIA

KARDEC, Allan. A Gênese. 1ed. Rio de Janeiro: Ed. León Denis, 2008.
KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 8 ed. Araras: Ed. IDE, 1995.
KARDEC, Allan. Revista Espírita. Novembro de 1860, Araras: Ed. IDE,1993.
KARDEC, Allan. Revista Espírita. Agosto de 1859, Araras: Ed. IDE, 1993.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 67 ed. São Paulo: Ed. Lake, 2007.
KARDEC, Allan. Evangelho Segundo o Espiritismo. 85. ed. Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1982.


quarta-feira, 7 de maio de 2014

Influências Espirituais

INFLUÊNCIAS ESPIRITUAIS

Publicado na Revista RIE de maio de 2014

                    Mesmo para as pessoas que acreditam serem espiritualizadas, as preocupações e as dificuldades do cotidiano, acabam provocando, algumas vezes, uma ilusão. A ilusão que a vida se limitaria apenas a estas preocupações e dificuldades, diminuindo-se, portanto, a importância da dimensão espiritual, ou mesmo esquecendo-a quase por completo. Mas por que este esquecimento ou negligência são perigosos? Por que na dimensão espiritual está uma população invisível que se move em torno de nós, e ela, não é feita apenas de espíritos bons: “Os Espíritos que formam a população invisível da Terra são, de certa maneira, o reflexo do mundo corporal. Encontram-se neles os mesmos vícios e as mesmas virtudes aqui observadas”[1], consequentemente os espíritos maus também exercem sua influência, facilitados, como foi dito, pela ignorância ou pela falta de preocupação pelas questões espirituais que normalmente levam a falta de vigilância sobre nossos atos e pensamentos.
                   Devemos saber que, para se aproximarem de nós, os espíritos maus não esperam o nosso chamado: “Credes que os Espíritos maus, que pululam no meio da Humanidade, esperaram ser chamados para exercerem sua influência perniciosa?” [2], o que vale dizer que, retirando os inimigos espirituais, em casos específicos de vingança, são eles, os espíritos inferiores, verdadeiros oportunistas, figurativamente, como as aves que são atraídas pelo cheiro de animais mortos, sendo este odor nossas imperfeições ou nossas inclinações menos dignas: tais inclinações são piores que os Espíritos maus, pois são elas que os atraem como a corrupção atrai as aves de rapina”.[3]
                   Para entendermos melhor o que facilita os espíritos serem atraídos uns pelos outros ou entre estes e os encarnados, devemos compreender que os espíritos irradiam ao seu redor uma espécie de energia que revela seu adiantamento intelecto/moral: “A alma não se acha encerrada no corpo, qual pássaro numa gaiola. Irradia e se manifesta exteriormente, como a luz através de um globo de vidro”[4] . É oportuno também o trecho encontrado no livro Céu e o inferno: "Por sua natureza, possui o Espírito uma propriedade luminosa que se desenvolve sob o influxo da atividade e das qualidades da alma”[5], assim, um espírito com baixa qualidade moral não poderá exteriorizar uma luz resplandecente, benéfica, curativa e amorosa, na verdade, não terá  luz  nenhuma, ou dependendo do caso sua  atmosfera espiritual será doentia, chegando a ser comparada com o cheiro da decomposição[6]ou miasmas[7]. Desta maneira, percebemos como deve ser difícil, para não dizer impossível, os espíritos encarnados ou desencarnados esconderem aquilo que são para os outros espíritos, tornando-se facilmente identificáveis, atraindo aqueles que são seus iguais.
                  Tendo em vista os conhecimentos preliminares sobre os espíritos inferiores vistos até aqui, podemos fazer algumas reflexões decorrentes da influência destes espíritos. Primeiro: a criatura ao desencarnar, mesmo sendo má, não fica trancafiada para sempre em algum lugar, se fosse assim, não existiriam as obsessões. A Doutrina Espírita, pelo ensino dos Espíritos e pela prática mediúnica põe por terra a ideia de um céu compartimentado em níveis celestiais estanques e absolutos. Entretanto, é lógico que os espíritos possam ficar reunidos por simpatia ou identidade de interesses, em algum lugar[8], porém, regiões estas sempre regidas pela transitoriedade, já que o espírito tendo que obedecer cedo ou mais tarde a Lei do Progresso[9], terá que lançar voo para novas paisagens, é por isto que Kardec escreve: “A localização absoluta das regiões das penas e das recompensas só na imaginação do homem existe”[10]. Segundo: o contato com as influências negativas do além serve para uma finalidade positiva, sem que os espíritos malfeitores tenham consciência disto. Por que ao odiarem, estes espíritos estão oferecendo as vítimas a oportunidade do perdão, de retribuir o mal com o bem, lembrando a conhecida passagem do Evangelho: Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam...[11] Engana-se, porém, quem pensa que este tipo de “serviço” que os maus produzem, sem perceberem, os eximem da responsabilidade por seus atos, ou torne-os mais nobres, é assim que: Ai do mundo por causa dos escândalos; pois é necessário que venham escândalos; mas, ai do homem por quem o escândalo venha”[12] mais adiante outro trecho: “É necessário que o escândalo venha, porque, estando em expiação na Terra, os homens se punem a si mesmos pelo contacto de seus vícios, cujas primeiras vítimas são eles próprios e cujos inconvenientes acabam por compreender”[13]É de se admirar da sabedoria divina que de um mau tira um bem, pois oferecendo a criatura terrena a ocasião de entrar em contato com o mal, lhe dá oportunidade de resistir, fortalecendo o caráter, tornando-se um espírito melhor. É como um lutador que precisa de alguém para lutar, vindo a ser mais forte e mais poderoso que seu adversário, é desta maneira que, aquele que “se libertou da obsessão em vida, é forte, e os Espíritos maus o encaram com temor e respeito”[14]. Terceiro: A possibilidade de podermos fazer o mal ou o bem revela o livre arbítrio dado por Deus as suas criaturas e como esta liberdade é importante na evolução do espírito, porque, se Deus através de seus mensageiros fosse impedir toda vez este ou aquele ato infeliz, não ganharíamos experiência com nossos próprios erros e o mérito pessoal em resistir ao mal ficaria comprometido. Porém, se engana quem pensa que estamos sozinhos na luta contra as influências negativas. Segundo a Doutrina Espírita, todos nós contamos com um espírito protetor, que nos induz bons pensamentos, que age em nosso favor para que venhamos a permanecer no caminho reto, sem nos tolher a liberdade ou o livre arbítrio. O espírito protetor até pode expulsar ocasionalmente[15] os espíritos inferiores que desejam nos envolver, entretanto, a responsabilidade maior em fazer isto é, e sempre será, de nós mesmos pela prática do bem, pela vivência do amor e principalmente pela perseverança no objetivo de tornar-se uma pessoa melhor. Todavia fiquemos atentos, os espíritos maus não vão embora quando a bondade e as boas intenções são apenas superficiais e passageiras. Lembremo-nos da questão 468 do Livro dos Espíritos: “... Entretanto, ficam à espreita de um momento propício, como o gato que tocaia o rato”.[16] Este momento propício certamente varia de pessoa para pessoa, mas normalmente se apresenta quando os problemas aparecem ou quando vivemos situações em que nossos impulsos inferiores podem ser satisfeitos[17].
                     O assédio do mundo espiritual inferior revela uma verdadeira batalha espiritual que se dá na vida diária sem que muitos tenham consciência disto. Os que se deixam levar pelas drogas, pelos desvarios do sexo, pela violência, pelo crime, pelo desânimo excessivo, pelo pessimismo, pela arrogância e pela vaidade, pelo apego as coisas materiais em detrimento das espirituais são os que estão perdendo e os espíritos inferiores se alegram, pois nestes casos nós nos assemelhamos a eles. Mas os que, vigilantes, não desistem e mesmo caindo em erro voltam a se erguer e mesmo tendo a consciência da triste verdade que certas fraquezas têm raízes profundas na alma, e mesmo assim não desanimam na busca de horizontes mais altos, bem, estes são os que estão vencendo, homens e mulheres de bem[18], espalhados pelo mundo na mais alta até a mais humilde posição social, pertencendo aos mais variados credos e culturas. São eles que já fazem esta revolução silenciosa, qual rio subterrâneo que eclode de maneira subversiva nas tradições perversas e viciosas do mundo para transformá-las. O Espiritismo, não ficando de fora deste movimento renovador, é também uma voz que vem clamar, a adentrarem na batalha, todos aqueles que almejam um mundo melhor, batalha esta, sem dragões, espadas ou castelos como na visão romanesca medieval ou tanques e foguetes do mundo contemporâneo, mas com a armadura indestrutível do amor e do esclarecimento.

FAUSTO FABIANO DA SILVA
Pesquisador Espírita em Londrina.


BIBLIOGRÁFIA

KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo. Araras: Ed. Instituto de Difusão Espírita.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 67. ed. São Paulo: Ed.  Lake, 2007.
KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno.  Disponível em <http://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2012/07/138.pdf  > Acesso em 10 de fevereiro de 2014.                           
KARDEC, Allan. Evangelho Segundo o Espiritismo. 85. ed. Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1982.
KARDEC, Allan. Revista Espírita, junho de 1860.
KARDEC, Allan. Revista Espírita, dezembro de 1862.




[1] Pequena Conferência Espírita, capítulo um, livro O que é o Espiritismo de Allan Kardec.
[2] Revista Espírita de dezembro de1862, Estudos sobre os Possessos de Morzine.
[3] Idem ao item 2
[4] Livro dos Espíritos de Allan Kardec, questão 141.
[5] Livro O Céu e o Inferno de Allan Kardec, segunda parte, capítulo IV- Espíritos Sofredores, Claire.
[6] Estudos Sobre os Possessos de Morzine na Revista Espírita de dezembro de 1862
[7] Miasma é o conjunto de odores fétidos provenientes de matéria orgânica em putrefação. No século XVII acreditava-se que estes odores eram a causa de doenças, mais tarde esta crença foi abandonada pela teoria microbiana.
[8] Questão 278 do Livro dos Espíritos: Os da mesma categoria se reúnem por uma espécie de afinidade e formam grupos ou famílias, unidos pelos laços da simpatia e pelos fins a que visam: os bons, pelo desejo de fazerem o bem; os maus, pelo de fazerem o mal, pela vergonha de suas faltas e pela necessidade de se acharem entre os que se lhes assemelham.
[9] Livro dos Espíritos de Allan Kardec, capítulo VIII.
[10] Livro dos Espíritos de Allan Kardec questão 1012, edição eletrônica FEB.
[11] Livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XII, Amai aos Vossos Inimigos, Mateus, 5:43 a 47.
[12]Livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo VIII, Escândalos. Se a vossa mão é motivo de escândalo, cortai-a. Mateus 18:7
[13] Livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo VIII, item 14.
[14] Revista Espírita de junho de 1860. Conversas Familiares de Além Túmulo.
[15] Leia-se o texto do item 6 onde encontramos: “Todavia – indagarão – por que os Espíritos protetores não lhes ordenam que se retirem? Certamente o podem e o fazem algumas vezes; mas, permitindo a luta, também deixam o mérito da vitória”.
[16] Questão 468 do Livro dos Espíritos.
[17]Questão 466 do Livro dos Espíritos: “... porquanto os Espíritos inferiores correm a te auxiliar no mal, logo que desejes praticá-lo”.
[18] Leia-se o texto O Homem de Bem, capítulo XVII do Evangelho Segundo o Espiritismo.

sábado, 5 de abril de 2014

A Origem Divina e o Princípio da Causalidade




A ORIGEM DIVINA E O PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE

(Publicado na Revista Internacional de Espiritismo em dez. 2013)
                  

                  A importância da questão sobre a origem de Deus está ligada ao fato desta pergunta ser feita muitas vezes. Aparece frequentemente como um desafio aos que creem, como se a resposta não pudesse ser elaborada de maneira satisfatória.
                  Para responder a esta indagação, vamos fazer outras perguntas, por exemplo: Deus tem uma extensão? Uma altura? Um peso? Acontece que estas perguntas não fazem sentido para Deus. Em outras palavras são perguntas que não podem ser feitas, pois servem para explicar o universo material e não Deus, porque Deus é outra coisa. Como assim, outra coisa?  No Livro dos Espíritos, questão 27, os Espíritos nos explicam que existe um princípio que abrange tudo o que se chama realidade, a Trindade Universal, composto por Deus, os espíritos e a matéria: Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, a trindade universal” apesar de estarmos, como pensou Kardec, imersos na divindade[1], o interessante é que Deus não se confunde com os espíritos muito menos com a matéria, Sua natureza é outra. Os próprios Espíritos definiram Deus apenas através de seus atributos e não pela sua essência: “Deus é a inteligência suprema e causa primária de todas as coisas” [2], e a essência de Deus nos é interditada: “Pode o homem compreender a natureza íntima de Deus”? Não...[3], Kardec também escreveu: Impotente para compreender a essência mesma da Divindade, o homem não pode fazer dela mais do que uma ideia aproximativa, mediante comparações necessariamente muito imperfeitas...” [4].
                   Fica claro então que não podemos entender a essência de Deus, muito menos, querer desvendar este mistério usando princípios que servem para compreendermos a nossa realidade. Desta maneira, a pergunta inicial, de quem criou Deus, também não faz sentido, pois esta pergunta nos remete a um princípio igualmente próprio do mundo criado, o princípio da causalidade. Para Deus ter uma causa seria necessário que Ele fosse do nosso mundo, mas então não seria Deus.
                   Para explicarmos melhor a questão de Deus, não pertencer ao nosso mundo, vamos lembrar a Teoria do Big Bang. Segundo esta teoria, não é somente a matéria/energia que teria começado a existir aproximadamente a 13 bilhões de anos atrás, mas o próprio tempo. Portanto, se Deus é a causa primária de todas as coisas, Ele deve estar fora do tempo e do espaço e não precisa de causa, mais uma razão para a pergunta “quem criou Deus?” ser absurda. É sugestivo o comentário de Kardec a pergunta 240 do Livro dos Espíritos: “Os Espíritos vivem fora do tempo como o compreendemos” o que se dirá então de Deus.
                   Nós compreendemos então o contra senso que é usar o princípio da causalidade para Deus, entretanto, a causalidade pode perfeitamente ser usada para as coisas criadas, como o universo, tanto é assim que o Espiritismo apoia-se neste princípio para dar sustentação lógica a crença em Deus: “Num axioma que aplicais às vossas ciências. Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão responderá” [5].
                   Alguns inimigos das ideias espíritas, não contentes em fazer a pergunta de quem criou Deus, na tentativa de embaraçar os que Nele acreditam, tentam como alternativa, desqualificar o próprio princípio da causalidade usando especulações advindas da Física Quântica.
                    É sabido que alguns fenômenos quânticos, ou seja, das partículas subatômicas, não podem ser entendidos, até o momento, em termos de causa e efeito, preponderando à probabilística ou a incerteza. O comentário do matemático Von Neumann[6] em 1932 continua atual: “Só em escala atômica, nos processos elementares, que a questão da causalidade pode realmente ser discutida; mas, nessa escala, no estado atual de nossos conhecimentos, tudo está contra ela, porque a única teoria formal que se ajusta mais ou menos à experiência é a mecânica quântica, e esta está em pleno conflito lógico com a causalidade” [7].
                   Para respondermos ao grande matemático vamos lembrar a conhecida causa material Aristotélica. Numa estátua de bronze, a causa material é o próprio bronze, ou seja, a matéria que ela é constituída. Em outras palavras, para aquela estátua existir é necessário o bronze. Desta forma, para os fenômenos quânticos existirem é necessário haver as partículas subatômicas, sem estas partículas não existiria nem a Física Quântica e nem a realidade que nos é familiar. A grande questão é de onde vem o bronze da estátua e não a imprevisibilidade quântica, imprevisibilidade esta que reflete como bem disse Von Neumann, simplesmente o "estado atual", portanto, passível de mudança do conhecimento humano. Além disto, a Física Quântica está longe ainda de uma verdade definitiva sobre a realidade e consequentemente sobre a causalidade, tanto é assim que Richard Feynman (1918-1988) um dos físicos mais proeminentes do século 20 escreveu: “Eu acho que posso dizer seguramente que ninguém entende a mecânica quântica. (...)” [8].
                  Mas vamos tentar responder da onde vem o bronze da estátua, será que vêm dos átomos? De uma energia, outra dimensão, universos paralelos, singularidades?[9], mas de onde vêm estas coisas? Desta maneira, não importa o quanto distante formos ou mirabolante for a teoria apresentada, nunca fugiremos da problemática da origem última, já que o nada não pode produzir algo, pois se produzisse deixaria de ser o nada, então uma causa última geradora de tudo se impõe de maneira absoluta, como fica claro no Livro dos Espíritos: Duvidar da existência de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e avançar que o nada pôde fazer alguma coisa[10].
                   Vemos desta forma que o famoso pensamento espírita: “Todo efeito tem uma causa”. Todo efeito inteligente tem uma causa inteligente. O poder da causa inteligente está na razão da grandeza do efeito[11], nem sequer é arranhado em seu fundamento lógico profundo, continuando completamente atual, para desespero dos que desejam que a causalidade seja assunto ultrapassado.

FAUSTO FABIANO DA SILVA


BIBLIOGRAFIA
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 67. ed. São Paulo: Ed.  Lake, 2007.
KARDEC, Allan. A Gênese. Disponível em <http://www.febnet.org.br/ba/file/Obras%20B%C3%A1sicas/ge.pdf> Acesso em 17 de setembro de 2013.
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 5.ed. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2007.
OLIVEIRA, Adilson. Onda ou Partícula? Uma questão de interpretação. Disponível em<http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/fisica-sem-misterio/onda-ou-particula-uma-questao-de-interpretacao> Acesso em 17 de setembro de 2013.






[1] Allan Kardec escreveu no livro A Gênese, capítulo II, item 24: “a natureza inteira mergulhada no fluido divino”.
[2] Questão número 01 do Livro dos Espíritos
[3] Questão número 10 do Livro dos Espíritos
[4] Item 22, capítulo II do Livro A Gênese de Kardec.                

[5] Questão número 04 do Livro dos Espíritos.
[6]Von Neumann é considerado um dos mais importantes matemáticos do século XX.
[7]Comentário retirado do item “causalidade” do dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano.

[8]  Frase de Richard Feynman encontrada no texto “Onda ou Partícula? Uma questão de interpretação” do Físico Adilson de Oliveira, professor da Universidade Federal de São Carlos.
[9]Em cosmologia, singularidade é a região do espaço-tempo onde as leis da Física atualmente conhecidas entram em colapso e as equações perdem o seu significado.
  
[10] Idem ao item 05.
[11]Frase encontrada no início dos 12 volumes da Revista Espírita correspondentes aos anos de 1858 a 1869.