OS ANIMAIS NO MUNDO
ESPIRITUAL
(Publicado na Revista
Internacional de Espiritismo de dez. de 2011)
A existência de certos animais,
normalmente domésticos, no mundo espiritual, descritas em obras mediúnicas, tem
levantado críticas que chegam a dizer que estas descrições não são Doutrinárias.
Porém, existe um interessante caso de uma cachorrinha chamada Mika, relatado na
Revista Espírita de maio de 1865, que depois de morta é percebida pelos seus
donos, fato este que, torna o assunto merecedor de mais atenção, para não
cairmos em conclusões equivocadas. Vejamos o relato:
“Ultimamente, pelo meio da noite,
estando deitado, mas não dormindo, ouço partir dos pés de meu leito aquele
gemidinho que soltava a pequena galga, quando queria alguma coisa. Fiquei de
tal modo impressionado que estendi o braço fora do leito, como se a quisesse
atrair para mim e julguei mesmo que ia sentir suas carícias. Ao me levantar de
manhã, contei o fato à minha mulher, que disse: ‘Ouvi a mesma voz, não uma, mas
duas vezes. Parecia vir da porta de meu quarto. Meu primeiro pensamento foi que
a nossa pobre cadelinha não estava morta e que, escapando da casa do
veterinário, que dela se teria apropriado graças à gentileza, queria voltar à
nossa casa”.
E prossegue ainda: “Minha pobre filha doente, que tem sua caminha no quarto da mãe,
afirma que também ouviu. Apenas lhe pareceu que a voz não partia da porta de
entrada, mas do próprio leito de sua mãe...”.
Tudo poderia ser bem simples se
déssemos alguma outra causa ao som que foi ouvido. Porém, as palavras de um
espírito sobre o ocorrido, realizada em comunicação mediúnica em 21 de abril de
1865 pelo médium Sr.E. Vézy, na mesma Revista Espírita, pode alterar o rumo das
conclusões, este espírito diz textualmente:
“A manifestação, portanto, pode ocorrer, mas é passageira...”, podemos
então partir para a hipótese que, se esta opinião for verídica, a frase encontrada
no Livro dos Espíritos, questão 600 (sobre os animais): “Não lhe é dado tempo de entrar em relação com outras criaturas” poderá
ser interpretada como uma tendência geral, e não como princípio absoluto e
inflexível.
Por outro lado, a afirmação
sobre a erraticidade, encontrada no Livro dos Médiuns (Capítulo XXV, das
Evocações): “Assim, no mundo dos
Espíritos não há Espíritos errantes de animais, mas somente Espíritos humanos”,
muito utilizada para questionar a existência dos animais no mundo espiritual, é
facilmente resolvida. Ora, na questão 600 do Livro dos Espíritos, o conceito de
errante é claramente relacionado, exclusivamente com o espírito humano: “O Espírito errante é um ser que pensa e obra
por sua livre vontade”, desta maneira, não existem espíritos de animais
errantes, pois estes não pensam como os seres humanos, nem tem o correspondente
livre arbítrio, entretanto, isto não quer dizer que não existam animais no
plano espiritual já que, “errante”, segundo evidencia os espíritos, é uma
condição tipicamente humana. Podemos fazer uma analogia para entendermos melhor
o assunto, lembrando o conceito de “cidadão”, na Grécia Antiga, que era
relacionado apenas a uma minoria de homens livres, o que não excluía da
realidade social a existência de outras pessoas, como as mulheres. Pensando desta
maneira, podem existir animais no plano espiritual, porém errantes, somente os espíritos
humanos desencarnados.
O pesquisador espírita italiano Ernesto
Bozzano, autor de diversas obras entre as quais um livro, A Alma nos Animais, publicado
originalmente em italiano com o título Animali e manifestazioni metapsichici em 1923, portanto, antes da série André Luiz, relata vários casos de espíritos de animais
que são vistos ou ouvidos, por uma pessoa ou várias, aumentando a possibilidade
destes fatos serem verdadeiros (1). Um dos casos estudados por este autor,
descreve o aparecimento de uma gata depois de morta. Vejamos as conclusões de
Ernesto Bozzano sobre o caso:
“O caso acima mencionado é
bastante interessante e significativo, primeiro por causa da natureza
inquestionável do fato; depois, porque o fantasma foi visto por quatro pessoas
em momentos diferentes, o que elimina a hipótese de alucinação pura e simples.
Tendo em vista este fato, apenas duas hipóteses podem explicar o caso: a primeira
consistiria na suposição de que se tratava da visão de uma gata viva que teria
sido confundida com a gata falecida; a segunda seria a hipótese
espiritual-telepática. Refiro-me à primeira explicação pelo simples dever de
relator, pois nossos leitores já terão percebido que esta suposição não se
sustenta perante a análise das circunstâncias. Primeiramente porque, no caso em
análise, tratava-se de uma gata exótica única do seu tipo no local onde o
acontecimento se passou e caracterizada por uma pelagem típica dos gatos
persas, circunstâncias estas que tornariam absurdo pressupor que quatro
pessoas, em plena luz do dia, tivessem podido se equivocar na identificação. Em
seguida, porque observamos que a gata apareceu mancando, exatamente como o
animal morto. Em terceiro lugar, porque a gata-fantasma não apresentou sinais
em nenhum momento de que ouvia as pessoas chamarem-na – o que teria sido
inverossímil caso se tratasse de uma gata viva, e que, em contrapartida,
constitui um traço característico da maior parte dos fantasmas telepáticos e
espiritual-telepáticos, que não possuem a consciência do meio em que se encontram.
Finalmente, não devemos esquecer que o pequeno fantasma desapareceu inúmeras
vezes diante dos percipientes de uma maneira sutil e inexplicável. Sem nada a
acrescentar, o que acabo de afirmar é suficiente para demonstrar que a hipótese
da visão de uma gata viva, vista por quatro pessoas que a confundiram com a
gata falecida, não se sustenta diante do exame dos fatos. Somos obrigados a
concluir que o episódio em questão é certamente um exemplo autêntico de
aparição do fantasma de um animal defunto.
José Herculano Pires no livro
“Mediunidade, Vida e Comunicação” tem uma opinião interessante sobre estes
fenômenos que vale também a pena citarmos:
A sobrevivência da forma animal
confirma a teoria espírita a respeito, enquanto a psicocinesia revela a
possibilidade de controle dessas formas pelo poder mental dos espíritos. As
manifestações de fantasmas-animais não são naturalmente conscientes como as de
criaturas humanas, mas são produzidas por entidades espirituais interessadas nessas
demonstrações, seja para incentivar o maior respeito pelos animais na Terra,
seja por motivos científicos.
Na visão de Herculano, os
fantasmas animais, não apareceriam de forma espontânea, mas somente através da
vontade de espíritos humanos, só resta saber se o elemento espiritual dos
animais que sofrem a ação dos espíritos estaria realmente vivo ou se trata de
uma aparência. Se o princípio espiritual de certos animais poderia ser visto
pelos encarnados, sob a ação dos Espíritos, poderiam muito bem existir no plano
espiritual sob esta mesma ação, sem que isto tivesse o poder de alterar a Lei Geral
(L.E. questão 600) de serem, a grande maioria, quase imediatamente utilizados. Da
mesma maneira que o princípio geral de ir e vir, presente na Constituição
brasileira, não é alterado por algumas restrições a este direito, como por
exemplo, a necessária autorização para entrar em propriedade privada.
Não podemos esquecer da
conclusão de Allan Kardec, sobre esta problemática, escrita na Revista Espírita
de maio de 1865: “Quando tivermos reunido
documentos suficientes, resumi-los-emos num corpo de doutrina metódico, que
será submetido ao controle universal. Até lá, são apenas balizas postas no
caminho, para o esclarecer.”
Notemos
que em maio de 1865, já tinha sido publicada a segunda edição do Livro dos
Espíritos, e com este livro a questão 600, e também o Livro dos Médiuns, e
mesmo assim, Kardec entendeu que seria melhor reunir novos estudos evitando uma
palavra final sobre o assunto. Da mesma forma, Ernesto Bozzano, nas conclusões
do seu livro A Alma nos Animais, não
nos dá uma resposta categórica: “Eis o
porquê da conclusão legítima de que tudo concorre para demonstrar a realidade
da existência e da sobrevivência da psique animal; embora, conforme recomendam
os métodos de pesquisas científicas, antes de nos pronunciarmos definitivamente
a esse respeito, é necessário esperar um acúmulo posterior de fatos...”.
Estas conclusões não definitivas
sobre os fatos e a necessidade de mais estudos, obrigam os espíritas a ser mais
cautelosos e consequentemente, seria de boa educação, guardar silêncio
respeitoso, antes de classificar estas descrições de fantasiosas, ou antidoutrinárias,
mesmo porque, elas podem ser verdadeiras...
(1) No fenômeno da
visão ou audição de espíritos de animais, não seria necessário a união fluídica
entre o homem e o animal, como alguns pensam. Mesmo porque, esta união é
impossível, devido à diferença evolutiva brutal entre ambos. Estas percepções
de animais mortos entrariam por isto, numa outra categoria de fenômenos, da
mesma maneira que os Espíritos humanos podem aparecer para certos animais (Livro
dos Médiuns em “Da Mediunidade nos Animais”) sem que exista nenhum intercâmbio
fluídico entre ambos.
Fausto Fabiano da Silva
Referência Bibliográfica
KARDEC,
Allan. Revista Espírita. Maio de 1865. Disponível em < http://www.febnet.org.br/site/ >
Acesso em: 15 set. 2011.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 67. ed. São
Paulo: Ed. Lake, 2007.
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 25. ed. São Paulo:
Ed. Lake, 2007.
PIRES, José Herculano. Mediunidade.
5. ed. São Paulo: Ed. Edicel, 1984.
BOZZANO, Ernesto. A
Alma nos Animais. Disponível em < http://www.autoresespiritasclassicos.com/
> Acesso em: 15 set. 2011.
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