AS CIDADES ESPIRITUAIS
(Publicado da Revista
Internacional de Espiritismo de agosto de 2011)
Não existem nas chamadas
Obras Básicas da Doutrina Espírita, relatos detalhados da vida espiritual como,
por exemplo, os encontrados na série André Luiz. Entretanto, estudando o
Espiritismo, verificamos que tais relatos são compatíveis com a lógica
Doutrinária, é o que veremos, analisando o Livro dos Espíritos e Livro dos
Médiuns.
A questão 278 (L.E.) nos
relata sobre a existência de sociedades e grupos de espíritos reunidos por
afinidade no mundo dos espíritos: “Os da
mesma categoria se reúnem por uma espécie de afinidade e formam grupos ou
famílias, unidos pelos laços da simpatia e pelos fins a que visam...”. Ora,
se os espíritos se reúnem, fazem isto em algum lugar, é lógico, portanto, pensarmos, que a realidade que cerca os
espíritos seja constituída de alguma forma de matéria (ignorada por nós), já
que o nada não existe, conforme a questão 36 (L.E.): “Não, não há o vácuo”.
A questão 279 (L.E.) é ainda
mais reveladora, por isto, é bom que o leitor a leia na íntegra: Todos os espíritos têm reciprocamente
acesso aos diferentes grupos ou sociedades que eles formam? R: Os bons vão a toda parte e assim deve ser,
para que possam influir sobre os maus. As regiões, porém, que os bons habitam estão interditadas aos Espíritos imperfeitos, a fim de que não as
perturbem com suas paixões inferiores. (grifos meus)
A palavra “habitam” é de extrema
significação, pois lembra morar, e morar lembra “casa”, para quem acha que uma
casa seria um absurdo, é só ler a questão 254 (L.E.) que esclarece que os
espíritos repousam: “O Espírito,
entretanto, repousa no sentido de não estar em constante atividade”, é
claro que não é o mesmo tipo de repouso do corpo físico, mas é lógico acreditar que o espírito
também possa fazer isto em lugar próprio, ainda mais se admitirmos que ele deve
ter a necessidade de privacidade, de não estar a todo tempo no meio de outros
espíritos, necessidade natural de momentos em que o ser, recolhe-se em pensamentos
e orações. Se o leitor quiser denominar este local de “Casa” não fique
constrangido.
O termo, “Habitam” da questão
279 (L.E.), também nos remete a idéia de uma sociedade espiritual não
momentânea ou ocasional, pelo contrário, leva-nos a crer numa certa estrutura
organizacional, mais ou menos duradoura, afinal, os bons espíritos não
habitariam no meio do caos e por pouco tempo, caso contrário, a palavra não
seria “habitam” não é mesmo? Se o leitor quiser denominar esta “estrutura
organizacional” onde os bons espíritos habitam, de CIDADE, fique a vontade.
Ainda na mesma questão 279 (L.E.) a palavra
“interditada” nos dá a idéia de limites, não absolutos é claro. Se estas
estruturas organizacionais são interditadas aos inferiores, quer dizer que
apenas os bons vão e estão em toda parte e que a liberdade de locomoção está
diretamente relacionada à evolução espiritual de cada um.
E como estas regiões (notem que os Espíritos não estão falando de planetas) seriam
interditadas? Embora a questão 279 não responda esta particularidade, podemos
muito bem imaginar uma barreira energética, ou coisa semelhante, envolvendo aquela
estrutura organizacional que impediria os espíritos inferiores de entrar. Se o
leitor quiser denominar esta barreira energética simplesmente de MURO também
fique a vontade.
Analisando os estudos feitos até aqui, todos
os espíritas, acredito, poderiam concordar sobre a existência daquela estrutura
organizacional, onde os bons espíritos habitariam, mas qual a evidência que
esta estrutura seja parecida com uma cidade, com prédios, casas, ruas, árvores
e hospitais? É o que veremos agora.
Estudando a questão 278 (L.E.) verificamos que
o mundo dos encarnados é um reflexo pálido do mundo espiritual: “Constituem um mundo do qual o vosso é
pálido reflexo”, ou na tradução
de J. Herculano Pires um “reflexo
obscuro”. Ora, se o mundo físico é um reflexo, mesmo que pálido, é porque
existem elementos comuns, elementos parecidos. Assim, o mundo dos espíritos não
seria completamente diferente do mundo dos encarnados, pelos menos nas esferas,
ou dimensões que estariam próximas da Terra. Lembrando também que é
perfeitamente possível os espíritos criarem, se quiserem, elementos parecidos
com os da Terra, conforme ilustra o trecho do Livro dos Médiuns no capítulo
“Laboratório do Mundo Invisível”: “O
Espírito dispõe, sobre os elementos materiais dispersos por todo o espaço da
vossa atmosfera, de um poder que estais longe de suspeitar. Ele pode concentrar
esses elementos pela sua vontade e dar-lhe a forma que convenha às suas
intenções.” Não podemos esquecer,
igualmente, que a matéria pode apresentar-se em estados que ignoramos conforme,
conforme a questão 22 ( L.E.) : “Mas a
matéria existe em estados que ignorais. Pode ser, por exemplo, tão etérea e
sutil, que nenhuma impressão vos cause aos sentidos”.
Se antes podíamos admitir
como uma hipótese a existência de cidades no plano espiritual, agora, pela
questão do reflexo, e pelo poder do espírito (conforme seu grau de elevação) em
manipular os elementos materiais dispersos, isto é ainda muito mais provável,
lógico e compatível com a Doutrina Espírita. Há, portanto, apoio Doutrinário nas
descrições encontradas em obras mediúnicas como as de Chico Xavier.
Além daquilo que analisamos
até aqui, mais um exemplo de raciocínio vem somar forças em defesa da existência
de cidades no plano espiritual. É que Deus, na sua soberana bondade, não
permitiria que centenas de espíritos desencarnados, ainda apegados aos mais
variados tipos de vícios, não encontrassem apoio no mundo espiritual, só porque
nas Obras Básicas espíritas não há a menção explícita de um hospital. Ora, se
não quisermos falar a palavra hospital, para não ferir os ouvidos dos que não
conseguem perceber os desdobramentos lógicos que o estudo do Espiritismo nos
dá, então poderemos dizer outra coisa mais complicada como: centro de apoio aos
espíritos arrependidos, ou sociedade de ajuda aos espíritos necessitados, mas
sinceramente, fica mais prático falar hospital.
Assim, consequentemente, se
existem hospitais, podem existir universidades, já que os espíritos progridem
também na erraticidade (questão 230
L.E.), e poderiam fazer seus estudos dentro daquela
região, onde os bons habitam, num lugar específico, e porque não? E qual nome que se dá a região onde existem casas,
hospitais e escolas? CIDADE.
Poderíamos dizer que a crença
em cidades no mundo espiritual não satisfaria o Controle Universal do Ensino
dos Espíritos, talvez isto fosse verdade se tal crença fosse mesmo uma
informação nova. Como se tornou claro até aqui, a ideia de cidades espirituais
é muito mais um desdobramento lógico dos princípios espíritas do que uma
novidade. Assim, os relatos existentes em obras mediúnicas consagradas sobre o
mundo dos espíritos, seriam desdobramentos, ou conseqüências naturais dos
estudos realizados e por isto não estariam fora do CUEE, como alguns pensam.
Poderíamos dizer ainda que,
se existissem cidades espirituais, então porque os Espíritos na Codificação não
as mencionaram como nas obras mediúnicas posteriores? Há uma resposta simples
para isto, encontrada no Livro dos Espíritos na questão 123 onde as palavras
utilizadas pelos Espíritos cabem muito bem aqui: “Como ousais pedir a Deus contas de seus atos? Supondes poder
penetra-lhe os desígnios?”.
Já tivemos oportunidade de
constatar que alguns espíritas contrários a ideia das cidades espirituais costumam
mencionar a questão do Livro dos Espíritos: “Um
lugar circunscrito no Universo está destinado às penas e aos gozos dos
Espíritos, de acordo com seus méritos?” (questão 1011 em algumas
traduções), mas o que eles se “esquecem” é de explicar que esta pergunta está
no subtítulo, “Paraíso, Inferno e Purgatório”, portanto, é em oposição a noção de inferno e céu católicos que
devemos entender a resposta dos Espíritos.
As cidades espirituais como Nosso Lar de André
Luiz, não se enquadram como representantes destes lugares circunscritos e
fechados na lógica Inferno/Céu da tradição teológica cristã, já que os
espíritos não ficam nas cidades espirituais para sempre e nem são lugares
absolutamente fechados ou absolutamente circunscritos, pois muitos espíritos
podem de lá sair e depois retornar, como foi o caso de André Luiz. Além do mais,
a pergunta em questão (l011), foi feita no singular, “Um lugar”, este detalhe é
importantíssimo e não pode ser negligenciado, pois a cidade Nosso Lar não é
este lugar único da pergunta, pois a literatura mediúnica nos relata sobre a
existência de várias cidades e não uma só, e para que não surjam dúvidas quanto
a outras traduções a questão do Livro dos Espíritos em Francês: “Un lieu circonscrit dans l’univers
est-il affecté aux peines et aux jouissances des Esprits, selon leurs mérits?”.
(Grifos meus).
Devemos estudar o Espiritismo
com profundidade para não cairmos na tentação das conclusões fáceis, superficiais
e muitas vezes tendenciosas, encontradas não raro em teses acadêmicas, fóruns
ou “blogs”, onde pessoas acreditando ser intelectuais e conhecedoras da
Doutrina acabam construindo um espiritismo particular, distanciado do
verdadeiro Espiritismo codificado por Allan Kardec.
FAUSTO FABIANO
DA SILVA
REFERÊNCIAS
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 67. ed. São
Paulo: Ed. Lake, 2007.
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 25. ed. São Paulo:
Ed. Lake, 2007.
KARDEC, Allan. Le Livre des
Esprits. Disponível em: http://www.spirite.be/livres/fr/allankardec-esprits.pdf
Recife, sábado, 26.12.2015
ResponderExcluirSenhor Coordenador
Cordiais saudações.
Gostaria de saber se existe uma Colônia Espiritual acima da cidade do Recife com o nome de Porto da Paz. Caso a resposta seja positiva, pergunto se existe algum livro ou "site" com informações sobre essa Colônia.
Walker Bezerra Vieira
Walkerbv@terra.com.br
Realizei uma breve pesquisa e fiquei sabendo de um livro chamado Moradas Espirituais da médium Vânia Arantes Damo pela editora Auta de Souza onde cita a colônia Porto da Paz. É necessário mais pesquisas para saber a seriedade desta médium e o conhecimento sobre Espiritismo que possui, antes de fazer qualquer avaliação.
ResponderExcluirA localização geográfica das colônias sempre vai ser uma questão secundária. Na verdade, não há utilidade nenhuma saber se há uma colônia a cima de tal ou tal cidade, desta maneira devemos ter a precaução de não transformar este este assunto em motivo de especulação. Acredito que expor as bases lógicas da Doutrina Espírita para a existência das colônias bem como mostrar a literatura mediúnica anterior a Chico Xavier que apontam na mesma direção seja mais importante, pensemos nisto.